Pra fechar 2019 (por Adalberto Paulo Klock)
Publicado em: 31/12/2019

2019/20 é o fim de ano mais nostálgica e triste já vivenciado nos meus 53 anos.
Os anos anteriores já foram terríveis à sociedade e aos trabalhadores, mas em 2019 tivemos o predomínio do trato público pelo privilégio aos ricos e poderosos e o colapso final das regras de proteção e garantia dos trabalhadores e dos pobres, ou seja, da absoluta maioria do povo brasileiro.
Porém, nenhum trabalhador ou servidor público, que votou em Bolsonaro, pode dizer que foi enganado, isso reconhecemos. Pode sim, quando muito, dizer que foi enganado por fake news da grande imprensa sobre corrupção e desgoverno. E esta, a mídia, mentiu e mente despudoradamente.
Mas ninguém agiu enganado com Bolsonaro, pois ele sempre foi o que ele é, e dizia isso de boca cheia. Todos sabiam, ele era um político medíocre, corrupto, fascista, misógino, racista e pregava a violência e a retirada dos direitos dos pobres e trabalhadores. Defendia a política de violência social, com aplicação do terror público. E isso não deu certo em lugar algum do mundo, muito menos em nosso passado, quando tivemos políticos parecidos com Bolsonaro, não tão tosco, mas do mesmo viés político. Devemos recordar Paulo Maluf, antiga Arena, posterior PDS e atual PP. Ele também representava essa direita rançosa, violenta e preconceituosa, que defendia o mesmo discurso hoje feito por Bolsonaro, ou seja: - “Bandido bom é bandido morto”, “rouba, mas faz”, jogava duro com a polícia, “a Rota atira primeiro e pergunta depois”, defendia a discriminação racial etc. O Maluf representou boa parte da direita deste país, que o idolatrava, tudo em nome do combate à esquerda. Mas hoje encontrar quem votava em Maluf está difícil – voto produz vergonha.
Esse exemplo é lapidar ao demonstrar o quanto o povo, de regra acreditando ser classe média, pode ser enganado por políticos que saibam utilizar elementos de tabus ou preconceitos da população. E se esses tabus e preconceitos são divulgados maciçamente pela grande imprensa, a população toda seguirá o que Nietsche chamava de “moral de rebanho”, e não haverá mais medida que consiga demover facilmente o povo dessa consciência errônea, mas intencionalmente produzida.
O discurso de corrupção é absolutamente eficiente para induzir os incautos a acreditarem ser ela, a corrupção, o problema somente, desviando-os dos verdadeiros fatores que empobrecem o Brasil e seu povo (povo incauto é aqui referido como a massa composta, em sua maioria, dos trabalhadores, profissionais liberais e pequenos e médios empresários).
Um dia, quiçá, compreenderemos que os desvios institucionais produzem mais pobreza do que qualquer outra coisa. Exemplo as isenções e anistias fiscais, diversas ou até dezena de vezes mais custosa ao país do que toda a corrupção. Vide a isenção dada à Shell, um trilhão em 20 anos. Só isso será maior do que toda a corrupção direta possível nesses 20 anos.
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Moro, o Pequeno inapto.
Há um grande destaque em 2019, o Moro. Ex-juiz poderoso, mas exposto, fora da redoma criada em torno de todo representante da magistratura e ministério público, demonstrou-se como um grande farsante e fracasso, um ser de baixíssima cultura jurídica e desconhecedor de princípios jurídicos básicos. Por sorte da população as propostas de Moro têm sido rejeitadas. O pacote anticrime era o convite à barbárie social, permitindo a morte indiscriminadamente e o desvio e perversão das entidades policiais do país. Não reduziria em nada a criminalidade, mas traria a violência do estado como resolução dos problemas sociais.
A única medida salutar, mas da qual Moro e a magistratura em geral são contra e não foi iniciativa destes, é o chamado Juiz de Garantia. Ou seja, criou-se a figura do juiz que fará a instrução e preparação do processo para o julgamento, e o julgamento será por outro juiz. É sistema adotado em grande parte dos países desenvolvidos, para eliminar a imparcialidade ou até a participação ativa do juiz que julgará no processo, como fez despudoradamente o Moro.
Porém, e não poderia ser diferente, a Magistratura se posicionou contra a criação do Juiz de Garantia. Mas o que esperar de uma categoria que, em sua maioria, admirou e até idolatrou os atos ilegais e abusivos praticados pelo Moro. Esses admiradores e idolatras de Moro, com sua pequenez jurídica, talvez sejam, ao fim, tão representativos da classe quanto o próprio Moro.
*Adalberto Paulo Klock é servidor público.